"Minha Terra"
Madrugava no Céu. Vinha perto a manhã,
Quando São Pedro abriu, serenamente,
A porta Eterna, branca de luar.
Amparado num véu de nuvem alvinitente,
Róseo qual maçã,
Um anjinho esperava a soluçar...
- Entra, - disse-lhe o santo.>
- Por que choras tanto?!<
- Senhor, eu quero voltar...<
- Voltar? Queres voltar do Céu, anjiinho à toa?!
E a terra onde vivias era assim tão boa?
- A terra onde vivi é tão forrmosa,
Como não pode haver recanto igual.
A natureza ali, feita de rosas
é u'a perene festa tropical!
Ela é tão alta... Lembra uma palmeira erguida,
Muito bela e sobranceira,
Por sobre as outras terras qual rainha!
O céu que a cobre é feito só de estrelas,
Vendo-se aqui e ali
Uma fitinha de espaço muito azul, como a tecê-la.
À margem da lagoa cristalina,
Ergue-se, altiva e pequenina,
Uma ermida à Virgem do Rosário.
Nos pomares e jardins, em desadorno,
Cantam nuvens douradas
De pintassilgos e de encantos d'ouro.
Tempestades de loucos furacões
Que revolvem os campos dos sertões,
Não alcançam o azul da serrania!
A brisa é tão cheirosa e tão macia,
Que parece soprada pelos lírios!
O próprio sol é brando como os círios!
A árvore da vida ali vive a cantar.
No Céu também é bom, mas...
Deixa-me voltar!
E o Santo Pescador, bondoso e comovido,
Lembrando-se talvez de sua Canaã,
Como a sentir o coração ferido de saudade,
Falou com piedade:
- Tu voltarás, meu filho!
Eu direi a Jesus da saudade
Que tanto te consome.
Mas... essa terra... esse outro céu...
Qual o seu nome?
Nisto Jesus chegando de repente
E ouvindo o interrogar do seu discípulo,
Sorrindo, respondeu paternalmente:
Esta relíquia, Pedro,
É no Brasil.
Num pequenino Estado lá do "Nodeste",
Em recanto feliz, pus toda sorte de beleza
As maravilhas das "Mil e Uma Noites"
Não valem seus jardins!
Esta terra de sonho e de poesia
Que tem a inicial a mesma de Maria,
Seu nome é doce...
Chama-se MARTINS!
Cosme Lemos
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